Independentemente da sua origem, destino ou classe, qualquer passageiro da TAP sabe que ao sentar-se a bordo de um dos aviões da companhia aérea portuguesa tem à sua frente uma revista. Esta revista mensal, bilingue e gratuita chama-se UP – Ouse sonhar mais alto.
Mesmo para uma experiente editora e directora de revistas e jornais como Paula Oliveira Ribeiro, a UP é uma revista difícil de fazer. Porquê? É que entre os cerca de um milhão de passageiros que todos os meses voam na TAP contam-se “desde o CEO de uma multinacional que vai a Paris até a senhora dos Açores que vai visitar os netos em Newark, passando pela família de lisboetas que vai passar férias no Nordeste brasileiro, que se cruza com o casal de paulistas que vem para Portugal fazer enoturismo numa segunda lua-de-mel e o estudante que está a caminho do Erasmus na Alemanha. Há de tudo”.
Convidada em 2007 para “fazer algumas mudanças” à Atlantis, a anterior revista da TAP, Ribeiro propôs uma publicação que falasse a todos estes potenciais leitores de uma nova forma. Não sem antes entender o seguinte: “A única coisa que eu podia garantir sobre o meu leitor é que naquele instante – enquanto estivesse a ler a revista – ele estava a bordo de um avião da TAP. E daí a revista estar dividida em cinco blocos que somados fazem o tempo de um voo. Qualquer voo. Embarque imediato, Partida, Bagagem de mão, Piloto automático, Aterragem.”
Desafia de imediato Raquel Porto e Vasco Colombo, acabados de fundar o atelier +2 designers, para com ela projectarem essa publicação nos seis meses seguintes. Quase quatro anos depois, a UP prova hoje ser uma das mais criativas e surpreendentes manifestações do design editorial e da direcção artística em Portugal.
Começa, como todas as outras, pela capa: não estando à venda em quiosques, pode dar-se ao luxo de ter poucas, ou mesmo nenhumas, chamadas de capa. Cada uma é assim um veículo para uma “grande ideia”, algo hoje cada vez mais raro no design de revistas.
E como a “grande ideia” de cada UP é em geral um destino TAP, directora e designers começam por discutir conceitos e elementos que os evoquem. A partir daí, diz o designer, “procuramos criar imagens que tenham um carácter icónico, com uma abordagem surpreendente, com algum humor e que abram via a diversas leituras”.
Para Berlim, pensaram numa “cidade que se reconstrói, que renasce, com o contraste das duas personagens e a evocação do muro, dos graffiti mas também das Asas do Desejo do [realizador Wim] Wenders”. O Pantanal é uma evocação “da fauna exótica e também da caligrafia dos cadernos de viagem do [artista] Peter Beard”. Para a Amazónia tiraram, lembra Ribeiro, “toda a cor da revista deixando apenas o amarelo como sinal de perigo”, um gesto que reservou à UP um lugar no Museu da Biodiversidade da ONU em Nova Iorque.
Parte do charme destas capas é a forma como, entre fotografia, ilustração e tipografia, elas conseguem integrar referências da história do design que vão do título no tipo de letra Helvetica (Suíça) às cadeiras de Verner Panton (Copenhaga), dos cartazes de Paula Scher (Nova Iorque) ao calçadão de Burle Marx (Rio de Janeiro).
Ou não fosse a UP uma montra privilegiada para os valores nacionais, outro triunfo das suas capas são as colaborações regulares com designers portugueses, como os Storytailors (Madrid e Estrada Real), Lidija Kolovrat (Barcelona), Valentim Quaresma (Nova Iorque) ou Marta Anjos (Croácia). Estas possibilitam, releva Colombo, “não só linguagens mais ricas do as que conseguiríamos se usássemos os clássicos mock-upsexecutados de acordo com as nossas indicações, mas também um contributo preciso desses criadores”.
O fazer de cada capa é mostrado na secção making of, uma das mais populares da revista. Esta, afirma Ribeiro, “além de explicar as razões daquela capa, revela também – numa época onde impera a Internet e os bancos de imagens – que a capa é muito pensada, que há um raciocínio, uma gramática por trás daquele resultado”; ou seja, ela “não cai do céu”.
Manter a identidade da UP através das suas capas é um delicado, mas estimulante desafio mensal, como confessa Vasco Colombo: “Por vezes, a escolha de um elemento “ao lado” ou da fotografia sem a atitude certa transformam o resultado final numa outra coisa que não é uma capa da UP. É muito subtil, faz uma diferença gigante, mas o desafio é assim mais interessante e divertido.”
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BI
Capas da revista UP — Ouse sonhar mais alto
Design
+ 2 Designers
Cliente
TAP Portugal
Datas
Novembro 2007: lançamento da revista
+ info: www.upmagazine-tap.com