Em 1983 apareceram nas ruas de Oeiras 277 contentores de lixo nunca vistos. Para além de marcar o início da reciclagem (ou melhor, da recolha selectiva, por deposição pública e voluntária, de resíduos domésticos com destino à valorização e reciclagem) em Portugal, este acontecimento acrescentou um novo elemento aos nossos vocabulário e paisagem: o vidrão.
Sob o lema “Vidro velho vira novo”, uma campanha de sensibilização nacional convidou os portugueses a colocar garrafas de vidro e afins nos milhares de vidrões, verdes e redondos, que logo se multiplicaram por outras cidades. Com a chegada dos azuis e quadrados papelões em 1988, também jornais, revistas e outros papéis passaram a ter um novo destino. Em 1997, aterraram os primeiros ecopontos, contentores gémeos para vidro, papel e, uma novidade, embalagens de plástico e metal. Pouco depois vieram os pilhões e os rolhões. A seguir, os oleões.
Sabendo que quase dois terços da produção estimada de óleos alimentares usados (OAU) são gerados no sector doméstico, que de acordo com a lei a sua recolha é da responsabilidade das autarquias, e que óleo velho vira combustível novo, várias cidades portuguesas têm procurado implementar sistemas de recolha e reutilização destes resíduos.
Um desses sistemas foi o projecto europeu Oilprodiesel, iniciado em 2005 pela cidade de Oeiras em colaboração com dez outros parceiros, entre universidades, empresas e organismos nacionais e estrangeiros.
Após uma experiência com contentores onde o óleo era directamente vertido, optou-se por um sistema assente na deposição de embalagens cheias de óleo usado. Mais cómodo, higiénico e intuitivo, este convidaria cada utilizador a contribuir com um gesto já de si familiar: ver-se livre, no sítio certo, de uma embalagem indesejada.
O gabinete de design industrial Grandesign foi chamado a projectar o elemento central deste sistema. Vanda Amor, designer na Grandesign, enumera as principais necessidades funcionais do contentor: “Uma abertura com dimensão suficiente para garrafas e garrafões; uma altura acessível ao maior número de pessoas (incluindo em cadeiras de rodas); permitir o acesso pela traseira, para recolha e substituição do contentor interior onde são depositadas garrafas e garrafões; poder destacar-se dos restantes contentores para atrair a atenção do utilizador, dado ser um tipo de equipamento novo.” Após um longo processo de esboços, testes e ajustes, apareceram nas ruas de Oeiras, 25 anos depois dos primeiros vidrões, 20 novos oleões.
Quer pela sua forma inusitada, quer pelo engenho da sua construção, estes contentores conquistaram de imediato os munícipes que os enchem, os técnicos que os esvaziam e a empresa que agora os comercializa. Findo o projecto Oilprodiesel, a Vangest – grupo a que pertence a Grandesign – fez uma parceria com a Resopre, que no mesmo ano assumiu a produção, venda e distribuição dos oleões a outros municípios. E não só. Ao oleão “de Oeiras”, rebaptizado de O5, juntou-se mais tarde o O3, um mais pequeno, mas não menos icónico invólucro para contentores de 240 litros (os vulgares “caixotes do lixo”). E também o O2 que, por ser facilmente transportado (por uma empilhadora normal) e instalado em interiores, é já um enorme sucesso junto de grandes retalhistas. Não admira que esta “família laranja” seja hoje líder no seu mercado.
Se na reciclagem, verde é igual a vidro, azul a papel, amarelo a embalagens, vermelho a pilhas, será o laranja igual a óleo? Apesar de os primeiros oleões terem um topo castanho (em concordância cromática com outros contentores de resíduos orgânicos de Oeiras), os restantes projectados pela Grandesign são laranja-vivo. Não existindo uma cor homologada para os OAU, os designers escolheram-na “por ser muito apelativa, fácil de associar ao conteúdo, e por não ser ainda utilizada no padrão de cores dos ecopontos”. Uma entre tantas outras decisões de design que fizeram do oleão um novo elemento do vocabulário e paisagem dos portugueses.
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BI
Oleão
Design
Grandesign
Cliente
Câmara Municipal de Oeiras e Vangest Ambiente
Datas
2005-2008 (projecto Oilprodiesel)
Desde 2008 (comercialização Resopre)
+ info: www.vangest.com/ambiente
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