Joias mostradas na Bienal de Design de Curitiba, entre setembro e outubro, revelaram inovação e foco em sustentabilidade. Conheça as ideias, técnicas e materiais desse novo luxo brasileiro
Colares de papel e ouro, Bettina Terepins e Domingos Tótora
“A joia pode ser algo diferente de um colar com ouro, pedras e diamantes.” Quem diz é Bettina Terepins, designer de joias de São Paulo, sobre os resultados da sua parceria com o designer e mago do papel craft reciclado de Maria da Fé (MG), Domingos Tótora. Entre a rudeza do papelão e a delicadeza do ouro, os colares por eles desenhados e expostos na mostra Reinvenção da matéria, no Museu Oscar Niemeyer, mostram que o encontro de opostos pode ser bem-vindo.
Colares e braceletes Jalapa, Marcelo Rosenbaum e Heloísa Crocco
A convite da designer gaúcha Heloísa Crocco para um dos seus projetos Piracema, que aproximam designers e comunidades de artesãos, o designer paulistano Marcelo Rosenbaum passou dez dias no Tocantins, mais precisamente no Jalapão, o celeiro do capim-dourado, matéria-prima única do Brasil. Para a coleção Jalapa, composta de maxibijuterias, Rosenbaum buscou atenção para o material. “Eu quis valorizar o brilho do capim-dourado, realçar seu caráter nobre e usar outros materiais que contrastam com ele, mas sem roubar a cena”, diz o designer. Estes colares e braceletes alcançam um máximo impacto com o uso mínimo do capim precioso.
Joias Orgânicas, Flávia Amadeu
Os colares de borracha macia, translúcida e colorida criados por Flávia Amadeu são joias que transpõem a ideia de um adorno luxuoso e se tornam símbolo de inovação tecnológica, sensibilidade ambiental e progresso social. Extraída de acordo com a tecnologia alternativa Tecbor, desenvolvida pela Universidade de Brasília, a borracha natural usada nas peças permite aos seringueiros de látex da Amazônia ter ganhos maiores com a sua extração. Na verdade, todos ganhamos com isso.
Coleção Araucária, Miriam Mamber
Há 30 anos Miriam Mamber cria joias a partir dos mais invulgares metais, pedras, sementes e fungos oriundos de longínquas terras brasileiras. Paulistana de adoção, mas curitibana de berço, Mamber mostrou nesta Bienal de Design uma coleção de objetos que a trouxe literalmente de volta às suas raízes. A inspiração vem da araucária, a quase extinta conífera do sul do Brasil. Ela fundiu ouro, aço, opala, dendrita e ônix em colares e broches de grande pureza e simplicidade.
Bracelete Índio Urbano, Mana Bernardes
Sob o olhar da designer, poetisa e educadora carioca Mana Bernardes, milhares de lâminas são cortadas nos plásticos PET e PVC e combinadas em colares, braceletes e broches de rara elegância e luminosidade. Estas joias mostram como, por meio do design, um material consegue transcender um estado de lixo para chegar a um estatuto de luxo. “No dia que alguém gostar do que faço só porque é feito de material reciclado vou ficar triste”, diz Mana.
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Acabado de chegar a São Paulo de Curitiba, vindo da Bienal Brasileira de Design, conheci (através do amigo e fotógrafo Leonardo Finotti) numa inauguração a nova editora da Casa Vogue, autora e curadora Taissa Buescu, que me convidou a escrever para a revista. Dois dias depois reunimo-nos na redação da revista com o Artur Andrade, redator-chefe, e falámos de tudo e mais alguma coisa. Algumas semanas mais tarde saía a minha primeira “matéria” em português do Brasil.
Casa Vogue 303, Novembro 2010
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